O LIVRO DO AUTOR


A GARGALHADA DA GAIVOTA
Carlos Adauto Vieira – Escritor e Resenhista  Literário
Quando ouço ou leio sobre gaivotas; ou quando as vejo em fotos e pinturas; ou reproduzidas como o faz o nosso genial CONNY BAUMGART,  trago de volta da memória aquele hino maravilhoso sobre o dever de aprender muito bem do livro de Richard Bach – FERNÃO CAPELO GAIVOTA.
Quem quiser saber como se deve aprender a realizar algo, leia este livrinho: uma bíblia da aprendizagem.
Na nossa Feira do Livro de Joinville ( de que fui o idealizador com o desempenho da Suely Brandão, esta mineira jkassiana), temos lançado escritores inéditos ou pouco editados.
Nesta última, a 9ª., tivemos a coragem de lançar um autor, praticamente, desconhecido, talvez na sua primeira experiência literária, mas com invulgar êxito, não só pela ousadia, mas, principalmente, pela qualidade dos textos na sua correção, quando nos seus enredos. Surpreendente, claro, é pseudônimo de advogado e administrador político  em São Francisco do Sul: OTTO HORST- FLINKERBUSCH.
Embora sem poder desprezar  as suas experiências pessoais pela vida vivida, não desperdiçou a paisagem da nossa ilha encantada para alguns dos seus contos, especialmente o primeiro, onde as personagens humanas e aves se lhe prestam para ir narrando sem desprezar a oportunidade de tecer críticas construtivas sobre o pedacinho de paraíso, onde vivemos. Damião e as gaivotas se movimentam nele, compondo a estória.
Para não ser extenso, Ele merece mais espaços, retiro de um dos contos  o extrato do espírito do Autor, quando demonstra seu ecologismo na defesa do meio ambiente em viagem ao Paraguai:”Nenhuma palavra de protesto, nenhum alerta. Pelo contrário. Era tempo de desenvolvimentismo,o governo federal era de Juscelino, a ordem era produzir, plantar, colher, vender, exportar. Florestas para que ? Derrubava-se tudo, até a margem dos rios e riachos. “Nenhuma árvore devia permanecer em pé”.
Foi bem o retrato do Paraná ao tempo da terra roxa e do café, visto durante uma viagem ao Paraguai em 1970, quando já começava a receber o assédio da soja, outra praga ambiental. Mas a censura, igualmente, demonstrou o talento poético do escritor : “ O Paraguai com as suas inseguranças e suas contradições tem lá o seu lado poético.Conseqüentemente, os seus encantos que fazem o enlevo da grande maioria dos brasileiros que visitam o solo guarani em busca de coisas novas ou diferentes. Ao menor vacilo, esse encanto escapa ao controle do ser humano e o engolfa em seus tentáculos mágicos....É uma aposta. Uns estão certos de que ganham, outros arriscam. Outros, ainda, desconfiam que vão perder sempre.  ”(La garantía soy yo,p.177).
A HERANÇA, p. 15, nos dá o escritor advogado; OS DIPLOMADOS, p.157, o sarcástico, o ironista; O GALO EXPIATÓRIO, p. 93, o observador atento da vida urbana.
Poderia estender a resenha, mas ficaria enorme, perderia o seu objetivo. Afinal, são vinte bem elaborados contos !

Nenhum dos contos é demais, só acentuam as virtudes literárias do dr. OTTO, valendo a pena lê-lo por estas tardezinhas no veranico de maio do nosso Balneário.
 Ubatuba, 16 de maio de 2012.




 
e também via internet: 
SITE:
http://24.233.183.33/cont/login/Index_Piloto 
- veja na área "CONTOS" (inclusive e-book) 


e-mail
ottohorst@ig.com.br

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veja um trecho do conto:
PERGUNTE AO DANTAS 
... é nos pequenos municípios do Interior brasileiro que o fenômeno se verifica com mais freqüência. Trata-se da eleição de pessoas pouco esclarecidas, com um mínimo de escolaridade, às vezes sem escolaridade alguma, para o exercício do nobre cargo de vereador... . De rala ideologia, pouco se aventurava em polêmicas mais aprofundadas na temática política que norteia os fundamentos de todo e qualquer partido, mas isso, afinal, pouco lhe interessava... Dir-se-ia que, afinal, qualquer partido político serviria a Dantas. Este, de toda forma, não daria a mínima para a orientação ideológica ou para a doutrina... Dizia-se dele saber de cor o aniversário de todos os cidadãos... diziam outros que Dantas seria capaz de desfiar, de cor e salteado, a lista telefônica da cidade. Exagero...

Dantas chegou à vereança... Depois da eleição veio a diplomação. Cerimônia solene... A segunda vez na vida a usar terno e gravata... gostaria de dizer algumas coisas ao microfone, mas não deixaram... Afinal, tinha um bom timbre de voz. Na prática dos discursos fazia a alegria dos críticos e gozadores... na estreia tribunícia, mal instalada a legislatura, quis louvar o bom tempo... lascou que lá fora a tarde insolente vinha premiar os  nobres edis...

... trouxe à discussão o perigo... lá se registraram nada menos que quatro mortes fatais...

... subiu à tribuna para reclamar a demarcação de um estacionamento primitivo em frente à Câmara...

... para argumentar que o prefeito não podia exigir a desocupação da faixa etária da rodovia...

... um dos mais importantes dirigentes do PHD, partido político que...

... Os mandatários políticos correligionários de Dantas apressaram-se a convencê-lo para uma candidatura a deputado...

Enfim, curta o conto – em sua versão integral – no livro
A Gargalhada da Gaivota




veja um trecho de outro conto:
O Ambíguo
- Bom dia, Seu Tonico. Um pouco atrasado hoje, não é? Eu o vi quando entrava na igreja.
            - Bom dia, Padre Onofre. Um contratempinho lá em casa...
            Padre Onofre sentia que alguma coisa não estava nos eixos com relação àquele cordeiro do seu rebanho... Antônio Assunção de Miranda, o Tonico da Igreja, sempre fora pontual... Pequeno burocrata de grande companhia seguradora... baixinho e magricela, tendendo para o careca... brincava nas rodas de amigos: - ‘tá acabando o esterco dentro da cabeça...
Desgracioso mas eficiente... colhia os frutos da dedicação quase integral à igreja sob a forma de prestígio político... invariavelmente ofuscado pelas figuras mais proeminentes da sociedade... não passava disso: secretário dos marianos, conselheiro da associação dos moradores, papa-hóstias consagrado e consumado, político raso de ideologia infirmada...
Dona Rosinha, a dedicada esposa, também magra porém alta, espigada... com freqüência, Rosinha vinha se sentindo tentada a desabafar com Padre Onofre... ausências das sextas-feiras à noite... Tonico invariavelmente chegava em casa lá pelas duas da madrugada... mulheres? Não, provavelmente não... Bebida? Decididamente não... Jogatina? Maçonaria? Não, não e não!...
- Calma, Rosinha, um dia você saberá. Por enquanto, é segredo... os conflitos existenciais de Tonico continuavam a fustigar-lhe a consciência... era mais forte que Tonico. Vinha do alto, vinha da natureza, vinha... como era muito mais fácil submeter-se à vontade dos homens!
O horror aumentava nas sextas... os espíritos malignos estão especialmente ativos...
- Pensei que... fosse a Lua Cheia, padre – brincou o vereador.
- Lobisomens não existem, Doutor Lúcio. Mas não convém brincar...
Dona Rosinha, Padre Onofre e o Doutor Lúcio jamais vieram a saber do conflito que durante anos atormentou a alma de Antônio Assunção, vulgo Tonico da Igreja...

veja a íntegra do conto “O Ambíguo” no livro
A Gargalhada da Gaivota


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