sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O ‘estrupo’ é fichinha


Dona Valentina estava preocupada quando ligou para a comadre (dela):
- Cê viu a senvergonhice na ‘Grobo’, Francisca?
- Que senvergonhice, Tina?
- O ‘estrupo’ da moça na festa do ‘bebebê’. Cê não tá assistindo o ‘bebebê’, Francisca?
- Tô sim, mas nem liguei pro caso do ‘estrupo’. Acho que é tudo marmelada...
- É mesmo, todo mundo sabe que é marmelada, mas o Pedro ‘Bilau’ ainda vem com a conversa que a ‘Grobo’ mandou o rapaz pra rua porque ele abusou da moça. Ora, faz favor, a moça vai deitar pelada do lado do rapaz e quer que ele fique quieto...
Pois então, senhoras e senhores. Abriu-se assim mais uma grande e importantíssima polêmica no cenário sócio-cultural-policial do Brasil. A polícia do Rio de Janeiro (que tem muito pouca coisa para fazer, afinal no Rio quase não há criminalidade, não é mesmo?) abriu um inquérito. O caso só não foi parar (ainda) no Congresso Nacional porque os parlamentares estão em recesso (felizmente).
Um discreto e educativo programa televisivo da maior rede brasileira foi palco das cenas que deram origem a essa sublime controvérsia: teria ou não teria havido o estupro de uma casta donzela que tomou um porre homérico (sem querer, evidentemente) e foi dormir ao lado de um rapaz dito afrodescendente (que outro epíteto pode gerar processo). O infausto evento teria ocorrido durante o desenvolvimento do citado programa, o qual reúne uma caterva de rapazes e moças que se obrigam a conviver numa casa durante um determinado tempo sem ter clara e absolutamente o que fazer, a não ser o cumprimento de certas “tarefas” abiloladas ditadas pela produção do programa e, claro, as obrigações típicas de qualquer monastério que se preze.
O mérito da questão – se é que há algum mérito nisso – não fica claro, nem poderia. Afinal, a causa delicti aconteceu debaixo dos lençóis – de um edredom, no caso, que o ar condicionado estava ligado (se não estivesse, também...). Como ninguém viu a cena real, fica-se só nas conjeturas, o que, afinal, pode ser até mais grave – ou mais licencioso – do que a coisa ao vivo. Mas que o caso rendeu, isso rendeu! Para gáudio ($$$), regozijo ($$$) e satisfação ($$$) da dona do programa, a intangível Rede Globo de Televisão.
Pode ser que muitos dos aficionados do BBB não gostem de futebol, mas este esporte tem uma fórmula que evita dúvidas dessa natureza. Existem os árbitros auxiliares, popularmente conhecidos por “bandeirinhas”, que têm, entre outras atribuições, a de acompanhar lances de polêmica interpretação, como os casos em que é crucial saber se a bola entrou ou não entrou (na meta de gol, bem entendido).
Mas, Dona Valentina, não se apoquente. Estamos no Brasil, onde as mais nobres casas, inclusive (e principalmente) as oficiais, têm casos muito mais escabrosos acontecendo debaixo dos panos do que a nossa vã filosofia pode imaginar. O ‘estrupo’ é fichinha... e o ‘bebebê’ também é ‘curtura’...
Crédito fotográfico: Terra (http://diversao.terra.com.br/tv/bbb12/fotos/ )

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