Novamente na mesa do bar, na segunda-feira à
noite, os nossos personagens Narcisus e Ptolomeu:
Pitolo:
Está acompanhando a Eurocopa, Cisso?
Cisso:
Sim, como um bom admirador do esporte, Pitolo. Mas tem outra coisa que me chama
a atenção nessa Euro, Pitolo, além do futebol.
Pitolo:
E o que vem a ser esse seu interesse?
Cisso:
São os estádios. Acho impressionante que países saídos da antiga “Cortina de
Ferro” ainda recentemente, estejam investindo tanto
dinheiro na construção dos
estádios. Aliás, essa é uma preocupação de uma grande parte dos poloneses e
também dos ucranianos. A Europa está em crise e os governos gastam fábulas para
sediar os jogos.
Pitolo:
O turismo proporcionado pelos jogos não compensa esse investimento?
Cisso:
Isso é muito discutível, Pitolo. Numa conta simplista, não compensa. Talvez a compensação
venha com o tempo, talvez de forma indireta... talvez com a divulgação dos
atrativos de cada lugar, talvez assim possa ser... mas é uma coisa meio
abstrata...
Pitolo:
Mas a Uefa, que coordena a Eurocopa, não aceitaria...
Cisso:
Sim, eu sei, não aceitaria a competição nos países que não colocassem seus
estádios nas condições que ela determina. É o mesmo caso da Fifa, que eu acho
ser uma intromissão indevida na soberania de cada país.
Pitolo:
Parece que já houve protestos na Europa...
Cisso:
Sim, PItolo. Tanto na Polônia como na Ucrânia, principalmente na Ucrânia. O
povo está indignado com os gastos com a Euro. Na Ucrânia os protestos foram
organizados por aquele grupo de mulheres que saem às ruas com os seios à
mostra, o femen. Estão reclamando
inclusive do fato da Eurocopa atrair turistas com objetivos sexuais, mas aí eu
já acho que é torcer um pouco demais o assunto...
Pitolo:
Do jeito que elas protestam acho que atraem muito mais o turismo sexual do que
a Euro...
Cisso:
Não há dúvida, Pitolo. No imaginário dos marmanjos um grupo de moças bonitas
com os seios de fora atrai muito mais o interesse do que estádios e jogos de
futebol. Mas eu estava abordando esse assunto para chegar a outra história. A
da Copa do Mundo no Brasil...
Pitolo:
Também preocupam os gastos com estádios?
Cisso:
Claro, Pitolo, claro. No Brasil deve ser pior. Nossa triste tradição do
“jeitinho”, sempre favorável aos exploradores do povo, torna a situação muito
pior do que lá na Europa. As fortunas gastas nos estádios, e não só nos
estádios, mas também em toda a estrutura paralela certamente fará falta em
outros serviços sociais, como a saúde e a educação, que já estão com problemas
mais do que preocupantes...
Pitolo:
Aquilo que você chama de “estrutura paralela” deve servir no futuro...
Cisso:
Sim, Pitolo. As obras executadas nos sistemas viários das cidades, nos
aeroportos e estradas, por exemplo, são necessárias com ou sem Copa do Mundo,
mas a preocupação é com os custos... com a
aproximação da Copa as obras entram num regime de “super-urgência” ou,
como gostam os nossos políticos, de “urgência urgentíssima” e daí os
empreiteiros aproveitam para cobrar preços próximos aos cornos da lua. Em
situações de urgência possivelmente serão dispensadas as licitações, mas do
jeito que os processos licitatórios são conduzidos no Brasil pouca diferença
faz...
Pitolo:
E os estádios...
Cisso:
Pois é. O mesmo problema de custos também se aplica aos estádios. Além disso,
tem aqueles que são particulares, mas serão construídos ou reformados com
dinheiro público. É uma situação que nunca foi devidamente explicada. Nem será
jamais, pelo jeito. Vão construir elefantes brancos em cidades que nem tem
tradição esportiva. Nem clubes de futebol que possam despertar o interesse
popular existem por perto. Dizem que depois da Copa esses estádios poderão
servir para outros tipos de eventos, como espetáculos artísticos. Mas então,
não seria preferível construir logo espaços específicos para esse tipo de evento?
Sinceramente, não dá pra entender o Brasil...
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