Mais uma vez, na segunda-feira à noite, os
amigos Narcisus e Ptolomeu (nossos personagens Cisso e Pitolo) encontram-se
para discutir os assuntos de relevante interesse nacional. Acompanhe a conversa:
Pitolo:
Parace chateado hoje, Cisso... aconteceu algo de ruim?
Cisso:
De novo, Pitolo, de novo. Acompanhar os bastidores da política brasileira é um
sofrimento eterno. A não ser para aqueles que já estão corrompidos ou para os
que trazem nas veias o sangue contaminado pelas pragas do egoísmo, da cobiça e
da ambição desmedida. Tudo isso se encaixa perfeitamente no perfil dos
políticos brasileiros. Da maioria deles, pelo menos, pois é bom não
generalizar. Existem, por incrível que possa parecer, políticos bem intencionados.
Pena que sejam minoria...
Pitolo:
Mas o que é que está lhe afligindo agora, Cisso?
Cisso:
Na verdade, não é nem da esfera política, mas está diretamente relacionado com
ela. É o Tribunal Superior Eleitoral, que vai admitir a participação dos contas-sujas na eleição deste ano...
Pitolo:
Mas o Supremo já não havia decidido que a lei da ficha suja deveria valer para
essa eleição?
Cisso:
Sim, PItolo, a lei está valendo. Os fichas-sujas
não poderão participar das eleições. Mas os contas-sujas
sim.
Pitolo:
E qual a diferença, Cisso?
Cisso:
Fichas-sujas são aqueles que estão
condenados na justiça por crimes de qualquer natureza, desde que essa
condenação tenha sido decidida por um colegiado, ou seja, por um grupo de
juízes. Não vale a condenação singular, de um único juiz, como acontece nos
julgamentos de primeira instância. Já os contas-sujas
são aqueles candidatos que não tiveram suas contas de campanhas políticas
anteriores aprovadas pelos próprios tribunais eleitorais. São situações
diferentes mas que têm, na essência, a mesma fundamentação. Trocando em miúdos:
tanto os fichas-sujas como os contas-sujas são políticos inconfiáveis,
que não devem merecer o voto do eleitor.
Pitolo:
E por que o TSE admite a candidatura dos contas-sujas?
Cisso:
Essa decisão foi tomada por um grupo de sete juízes do TSE. Três deles votaram
a favor da proibição e quatro votaram contra. O interessante é que esse assunto
já havia sido discutido antes, e a decisão foi inversa. É que o juiz Ricardo
Levandowski foi substituído pelo juiz Dias Toffoli. Levandowski havia votado
contra os contas-sujas. Toffoli
resolveu dar uma mãozinha aos políticos matreiros, alegando que essa decisão
também precisa obedecer ao critério da anualidade, isto é, a decisão precisa
ser tomada um ano antes. Enfim, uma tremenda chicana, um atentado aos bons
princípios da sociedade...
Pitolo:
Quer dizer que o Tribunal Eleitoral rejeita as contas de um candidato e depois
admite que ele se candidate de novo?
Cisso:
Exatamente isso, Pitolo. É uma coisa que não tem sentido. É o modelo perfeito
da impunidade. O sujeito faz as trambicagens que bem entende, pisa na lei,
apresenta as contas de campanha de qualquer jeito e as coisas ficam por isso
mesmo. Na eleição seguinte ele pode sair candidato e fazer as mesmas barbaridades
de novo.
Pitolo:
É! Desse jeito, o Brasil não vai ter jeito...
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