terça-feira, 3 de julho de 2012

Os contas-sujas vêm aí...


Mais uma vez, na segunda-feira à noite, os amigos Narcisus e Ptolomeu (nossos personagens Cisso e Pitolo) encontram-se para discutir os assuntos de relevante interesse nacional. Acompanhe a conversa:
Pitolo: Parace chateado hoje, Cisso... aconteceu algo de ruim?
Cisso: De novo, Pitolo, de novo. Acompanhar os bastidores da política brasileira é um sofrimento eterno. A não ser para aqueles que já estão corrompidos ou para os que trazem nas veias o sangue contaminado pelas pragas do egoísmo, da cobiça e da ambição desmedida. Tudo isso se encaixa perfeitamente no perfil dos políticos brasileiros. Da maioria deles, pelo menos, pois é bom não generalizar. Existem, por incrível que possa parecer, políticos bem intencionados. Pena que sejam minoria...
Pitolo: Mas o que é que está lhe afligindo agora, Cisso?
Cisso: Na verdade, não é nem da esfera política, mas está diretamente relacionado com ela. É o Tribunal Superior Eleitoral, que vai admitir a participação dos contas-sujas na eleição deste ano...
Pitolo: Mas o Supremo já não havia decidido que a lei da ficha suja deveria valer para essa eleição?
Cisso: Sim, PItolo, a lei está valendo. Os fichas-sujas não poderão participar das eleições. Mas os contas-sujas sim.
Pitolo: E qual a diferença, Cisso?
Cisso: Fichas-sujas são aqueles que estão condenados na justiça por crimes de qualquer natureza, desde que essa condenação tenha sido decidida por um colegiado, ou seja, por um grupo de juízes. Não vale a condenação singular, de um único juiz, como acontece nos julgamentos de primeira instância. Já os contas-sujas são aqueles candidatos que não tiveram suas contas de campanhas políticas anteriores aprovadas pelos próprios tribunais eleitorais. São situações diferentes mas que têm, na essência, a mesma fundamentação. Trocando em miúdos: tanto os fichas-sujas como os contas-sujas são políticos inconfiáveis, que não devem merecer o voto do eleitor.
Pitolo: E por que o TSE admite a candidatura dos contas-sujas?
Cisso: Essa decisão foi tomada por um grupo de sete juízes do TSE. Três deles votaram a favor da proibição e quatro votaram contra. O interessante é que esse assunto já havia sido discutido antes, e a decisão foi inversa. É que o juiz Ricardo Levandowski foi substituído pelo juiz Dias Toffoli. Levandowski havia votado contra os contas-sujas. Toffoli resolveu dar uma mãozinha aos políticos matreiros, alegando que essa decisão também precisa obedecer ao critério da anualidade, isto é, a decisão precisa ser tomada um ano antes. Enfim, uma tremenda chicana, um atentado aos bons princípios da sociedade...
Pitolo: Quer dizer que o Tribunal Eleitoral rejeita as contas de um candidato e depois admite que ele se candidate de novo?
Cisso: Exatamente isso, Pitolo. É uma coisa que não tem sentido. É o modelo perfeito da impunidade. O sujeito faz as trambicagens que bem entende, pisa na lei, apresenta as contas de campanha de qualquer jeito e as coisas ficam por isso mesmo. Na eleição seguinte ele pode sair candidato e fazer as mesmas barbaridades de novo.
Pitolo: É! Desse jeito, o Brasil não vai ter jeito...

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