quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Apocalipse não


Entramos no último ano das nossas vidas. Todos nós. É bem isso o que dizem as profecias do apocalipse baseadas no calendário dos maias, aquele que indica o dia 21 de dezembro de 2012 como o fim dos tempos. Daqui a menos de um ano. Não dá pra dizer que a “Terra vai pro espaço” porque ela já está nele. E nós também, evidentemente, a bordo do dito cujo planeta. Os maias, um povo que, em priscas eras, habitou a região onde hoje ficam o México e a Guatemala, deixou alguns descendentes após o seu misterioso desaparecimento, por volta do ano 900. Não se sabe se o Tim Maia e o César Maia (aquele que foi prefeito do Rio de Janeiro), ou ainda, o Marco Maia, presidente da Câmara dos Deputados, estão entre esses descendentes ou se são oriundos dos maias portugueses,  que não inventaram nenhum calendário mas estrelaram aquela obra clássica de Eça de Queirós, Os Maias. Estes, enfim, não têm nada a ver com a história do fim do mundo (mesmo sendo políticos - e apesar de serem). Mesmo com toda a celeuma em torno do assunto, tem muita gente que não acredita no calendário do povo maia ou, por outra, não acredita que esse calendário aponte o fim dos tempos. A maioria, aliás, não acredita. Nem eu.
Maias a mais ou maias a menos, deixemo-los. Todavia existem outras versões do apocalipse. Entre elas a bíblica. Muita gente acredita na Bíblia. Só que, na versão bíblica, não há uma data certa para a ocorrência do fenômeno. O que é uma vantagem, porque sempre é possível dizer “eu não avisei?” Só que, nesse caso, o autor da previsão já bateu as cachuletas faz tempo, muito tempo. Cientificamente já se concluiu que, de fato, um dia qualquer o nosso mundo vai acabar. Pode ser daqui a um bilhão de anos ou ainda mais, mas que um dia acaba, acaba. Isso é certo. Também é certo que nós não estaremos aqui quando isso acontecer, a não ser que voltemos reencarnados (ou ressuscitados, o que, afinal, também é um tema apocalíptico). Mas aí já é outra história.
Quanto à história bíblica, descobriu-se que o texto do fim do mundo foi escrito no fim do século I, bem depois que Jesus Cristo havia retornado à paz celestial, por um certo João, que não se sabe se é o mesmo evangelista – ou o mesmo autor que assumiu o nome dele – mas, mais provavelmente, por algum cristão judeu revoltado com a situação daqueles tempos (foi depois da destruição do Templo de Salomão, em Jerusalém). De toda forma, parece que o Apocalipse foi escrito mesmo para impressionar. Na época, era conveniente que fosse assim. Suas expressões fortes traduzem os sentimentos anti-romanos e anti-pagãos dos primeiros cristãos. Por isso, foram citadas as coisas que existiam e como eram naqueles tempos. Se o texto fosse escrito nos dias atuais, na descrição dos fatos o exército de anjos não se limitaria a tocar trombetas e liras, mas também saxofones, guitarras e contrabaixos, como nas bandas gospel (e também nas de rock pauleira, que hoje é tudo a mesma coisa). E os cavaleiros do apocalipse não seriam “cavaleiros”, mas sim “motoqueiros”. E sendo o autor das cenas algum novelista da Globo ainda apareceria naturalmente a marca das máquinas (além de algum figurante tomando Coca-Cola), pois a oportunidade não podia ser perdida sem um merchandising editorial, simples que fosse.
Outro nome constantemente associado ao fim do mundo é o do famoso adivinho Nostradamus (quadro ao lado), nascido na França em plena Idade Média. Segundo ele, o mundo vai acabar depois das ações dos três anticristos, dois dos quais já passaram por aí e foram devidamente identificados (será mesmo?): Napoleão e Hitler. O terceiro foi designado apenas como “aquele que virá”. Como muitos já vieram e outros tantos ainda estão por vir, não se sabe de quem se trata. Provavelmente será o maluco (a verdadeira “besta do apocalipse”) que apertará o botão errado na hora errada, no caso do epílogo terráqueo vir a ser causado por um desastre nuclear (não será, talvez, Kim Jong-un, o rechonchudo líder norte-coreano que assumiu o comando do seu país ainda esta semana?)
Enfim, tranquilidade é a palavra de ordem, pouco a temer. Pelo menos por enquanto. Os maias não resistiram nem ao fim do calendário deles e os cristãos podem ficar descansados. O apocalipse, além de não fixar data, caiu em descrédito. Pode vir a acontecer alguma desgraça natural, como cair um cometa ou asteroide sobre as nossas cabeças, mas certamente será mais fácil acertar na mega sena. A da virada vem aí, com prêmio possivelmente recorde.
Crédito fotográfico: Portal Minilua (http://minilua.com/imagens-apocalipse/)

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