Segunda-feira à noite, naquele barzinho de costume, nossos
personagens do cotidiano auriverde, Narcisus e Ptolomeu, ou melhor, Cisso e
Pitolo, estão novamente discutindo os grandes temas políticos:
Pitolo: Então,
Cisso, ainda de mal com a política brasileira?
Cisso: Não tem
jeito, Pitolo. A gente não quer nem ouvir falar, mas o bichinho da curiosidade
é mais forte. Andei ouvindo algumas coisas a respeito da CPMI do Cachoeira e,
mais uma vez, me deu um ataque de fúria. É mesmo uma situação de deixar
qualquer cidadão
responsável com os cabelos em pé. Só mesmo os nossos
parlamentares que perderam toda a compostura, toda a faculdade de ficarem com o
rosto vermelho...
Pitolo: Está se
referindo aos depoimentos dos governadores, Cisso?
Cisso: Os
depoimentos foram um festival de artifícios, Pitolo. Armaram um circo tremendo,
tanto num caso como no outro. Nossos deputados e senadores ficariam muito bem
como palhaços ou como atores de uma ópera circense. Fingiram indignação em
alguns momentos, mas até mesmo o Camelino Parvo podia perceber a falsidade
dessa situação.
Pitolo: Chegaram
até a discussão bem acalorada...
Cisso: Esse tipo
de encenação parece papel higiênico perfumado. Não resolve absolutamente nada
mas disfarça o ambiente. E o pior de tudo até que não foram os depoimentos dos
governadores de Goiás e do Distrito Federal. O pior foi a derrubada da
convocação do diretor daquela empreiteira safardana, a tal de Delta, e também
do ex-diretor do DNIT, o tal de Pagot. São eles que poderiam contar umas
verdades verdadeiras, como se diz popularmente, mas isso os nossos
congressistas não querem ouvir...
Pitolo:
Realmente, é lastimável...
Cisso: Lastimável
é muito pouco, Pitolo. Lastimável é a derrota do Brasil, com o Neymar em campo,
para a Argentina do Messi. A conduta dos parlamentares da CPMI é vergonhosa.
Profundamente vergonhosa. Mas não tem jeito. Enquanto o povo brasileiro não
acordar para a necessidade de elegermos representantes realmente sérios, nós
vamos continuar nessa vergonheira...
Pitolo: E agora
ainda apareceu uma denúncia que alguns parlamentares tiveram um encontro com o
presidente da tal empreiteira Delta em Paris...
Cisso: Pois é. E
o cidadão ainda tem o desplante de dizer que foi um encontro casual. O cara sai
lá da África com destino ao Brasil, passa “casualmente” por Paris e encontra o
tal de Cavendish num almoço. Só faltou dizer que o empreiteiro pagou a conta do
restaurante por engano...
Pitolo: Estamos
realmente muito mal de políticos, Cisso. E neste ano teremos eleições para
prefeitos e vereadores...
Cisso: É sim,
Pitolo. E teremos uma novidade... os candidatos a prefeito terão de apresentar
um plano de governo para a Justiça Eleitoral. Vai ser um festival de
baboseiras, a oficialização das promessas de palanque...
Pitolo: Você acha
que essa medida não vai trazer benefícios?
Cisso: Como
assim? Você voltou a acreditar em Papai Noel depois de velho, Pitolo? Anda
lendo histórias da carochinha? Só vão por no papel aquelas mentiras que contam
nos palanques, e depois não cumprem. Toda lei, para ser cumprida, deve ter a
correspondente sanção em caso de não cumprimento... só assim uma regra pode ser
coercitiva... mas essa disposição não tem nenhuma pena, nenhum castigo. Se
alguém não cumprir o que prometeu, fica por isso mesmo... como sempre, aliás.
Pitolo: Alguém
poderia entrar com uma ação judicial no caso de não cumprimento...
Cisso: Sim,
poderia. Vai dar um tiro no próprio pé. Só vai se incomodar e ainda tirar
dinheiro do bolso. Ainda vai correr o risco de ser condenado por litigância de
má-fé ou por denunciação caluniosa. A lei não prevê sanções em caso do não
cumprimento das promessas dos políticos e, além disso, não determina em que
termos o tal plano de governo deve ser apresentado. Pode ser em termos
genéricos e vagos. Vai ser quase impossível provar alguma coisa. Você acha,
Pitolo, que os políticos iriam aprovar alguma coisa que pode complicar a vida
deles depois?
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