sexta-feira, 20 de julho de 2012

A religião das bruxas (II)


Esta matéria é um complemento da publicada sob o
mesmo título na postagem de 17 de julho.
O objetivo desta abordagem é provocar uma reflexão sobre os tropeços a que o ser humano está sujeito quando procura uma orientação para os próprios passos na obscuridade do sobrenatural desconhecido. Ao longo de sua trajetória a humanidade passou por vários ciclos históricos, geralmente definidos por fenômenos ou ocorrências marcantes que possibilitaram uma ordenação razoavelmente didática a fim de nos possibilitar uma visualização mais ou menos clara dos tempos e modos de sua ocorrência. Assim aconteceu desde os primórdios da humanidade sob a forma de sociedade organizada e consciente e os ciclos que se verificaram serviram para marcar as várias etapas pelas quais passou o desenvolvimento material e moral do ser humano.

Interessante registrar que essas etapas tiveram um denominador comum, presente de forma constante em todas elas: a religiosidade. Desde o totemismo das mais remotas civilizações até o multifacetado mosaico de crenças predominantemente monoteístas hoje ocorrente, passamos pelo politeísmo da Antiguidade, pelo paganismo das eras intermédias, pelos credos filosóficos orientais e pelo panteão místico da África negra, além de assistir o nascimento e a morte de uma desacreditada religião positivista desvinculada de qualquer fenômeno sobrenatural proposta no século XIX pelo filósofo francês August Comte e, mais recentemente, ver as confusas tentativas de vincular fenômenos paranormais à cientificidade da Física Quântica. Da mesma forma como muitas religiões não têm qualquer fundamento no conhecimento humano da época em que floresceram, nem sempre os ciclos históricos foram marcados de forma determinante por este ou aquele credo (mesmo que dominante), mas em todos eles essas crenças (ou pelo menos algumas delas) exerceram papel fundamental nos movimentos sociais que estabeleceram o seu nascedouro e o seu declínio. Vale registrar também que a maioria desses credos foi secundada por um emaranhado de miríades de seitas menores, geralmente ligadas a alguma prática misteriosa e a saberes esotéricos reservados a uma elite de iniciados, às vezes vinculadas ao credo dominante e às vezes não, sempre oferecendo uma alternativa mais ou menos viável (no entendimento dos seus praticantes) de encaminhamento espiritual a horizontes menos inóspitos, de acordo com a avaliação (e por conta e risco) de cada um.
Pois agora nos encontramos no limiar de uma nova era, segundo os místicos do momento (que só não são os mesmos das crenças esotéricas de ontem porque estes – em grande maioria – já se foram). Fala-se muito, inclusive numa fantasiosa “Era de Aquário” que, entretanto, ainda está meio longe no tempo, com ocorrência prevista astrologicamente lá pelos anos 2600 (os atuais viventes dificilmente chegarão até lá). Mas a aproximação do já famoso dia 21 de dezembro, data fatídica indicada no calendário do povo maia, habitante das terras médias da América pré-colombiana, aguça o instinto místico das pessoas (nem todas!) e as direciona à busca de antídotos para eventuais males que possam advir da iminente transformação do mundo.
Essa busca não poderia enveredar por outro caminho senão o das crenças alternativas, ainda mais porque a própria preconização do 21 de dezembro também é fruto desse tipo de convicções. Assim, nascem, renascem e se reforçam as seitas místicas ao redor do planeta, todas elas cheias de boas intenções. Em meio a tantas e tão diversificadas denominações, como panteísmo, deísmo, tantrismo, magia zen, yoga, candomblé e outras, vicejam também aquelas que têm alguma (ou muita) ligação com as forças ou fenômenos sinistros da natureza e/ou do sobrenatural, entre elas o palo que vimos na matéria anterior, o vudu, a quimbanda e, com especial destaque, a wicca, que vem a ser a efetiva religião da bruxaria. A exemplo das demais, estas também asseguram uma finalidade positiva, a busca do bem, mesmo que transitem pelos caminhos obscuros do imponderável.
Mas é preciso cuidado. O fervor reverencial em relação a valores desconhecidos pode conduzir facilmente ao fanatismo e a distância deste para um comportamento condenável é, em muitos casos, quase desprezível. Basta ver as páginas policiais dos jornais ou assistir os programas desse gênero da TV para constatar, com incrível frequência, as barbaridades cometidas em nome de cultos misteriosos.

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