terça-feira, 17 de julho de 2012

A religião das bruxas


Estamos numa época em que muito se fala em “nova era”, especialmente quando a ideia é associada ao famoso calendário maia e sua previsão de “fim do mundo” para o mês de dezembro vindouro (nesse particular a questão é frequentemente ligada à chamada “Era de Aquário”). Com efeito, numerosos são os “estudiosos” que vinculam a data fatídica dos maias ao surgimento de uma nova ordem universal em que novos valores viriam para substituir a filosofia dominante no planeta, claramente orientada à valoração da materialidade em detrimento das virtudes do espírito humano. Alguém já chamou essa tendência de “renascimento do fenômeno religioso”.
Nesse contexto de novos conceitos e novas ideias aflora o renascimento da tendência natural do ser humano em direção às práticas religiosas com insuspeitadas exclusões das crenças mais tradicionais e mais difundidas, como o cristianismo, o islamismo e o judaísmo (geralmente excluídas aquelas normalmente associadas ao Oriente, como o budismo, o induismo, o brahmanismo e outras). Em paralelo, verifica-se, no seio das religiões tradicionais, o surgimento (em determinados casos) e o fortalecimento (em outros) de segmentos internos, como o caso da Cabala no judaísmo. Como resultado dessa (des)ordem generalizada, assistimos ao florescimento de práticas pouco ortodoxas fortemente ligadas ao misticismo, à magia e ao sobrenatural.
Uma dessas práticas atende pelo nome de palo. O nome certo da crença deveria ser nganga, em honra às suas raízes enterradas na África Central, de onde veio a seita acompanhando as levas de escravos trazidos para países da América caribenha, como Cuba, Porto Rico e República Dominicana. Na América do Sul essa crença ficou restrita a regiões específicas da Venezuela e aos poucos invadiu os EUA por conta da população afro-latina que para lá se transferiu em épocas posteriores. Na África, especialmente no Congo, a tribo bantu constituía o principal reduto da seita. O nome palo é de origem espanhola e, no caso específico, refere-se à madeira (palo = pau) com que eram confeccionados os totens e as imagens veneradas pelos praticantes, bem como aos cercados de pau em que eram delimitados os terreiros das práticas religiosas.
As raízes africanas, evidententemente, conduzem à conclusão de um estreito relacionamento do palo com as seitas africanas largamente conhecidas no Brasil, como o candomblé, a umbando e a quinbanda. É com esta última que o palo mais se identifica. O fundamento principal do palo está ligado à natureza e à veneração dos espíritos dos mortos, especialmente dos ancestrais. Essa particularidade talvez explique a disseminação da crença entre os escravos, pois a forçada disjunção familiar certamente os levava a cultivar lembranças intimamente relacionadas com os ancestrais.
Alguns rituais do palo chegam a merecer o rótulo de macabros, como as cerimônias envolvendo ossos de cadáveres e terra de cemitérios. Por isso o palo é considerado uma seita satânica pelos religiosos tradicionais. A cidade de Guayama, em Porto Rico, é considerada a “cidade das bruxas” pois é onde se concentra uma grande quantidade de praticantes e é o reduto de muitos terreiros (nganga) onde se praticam os ritos.
Imagens: http://minilua.com/religioes


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