terça-feira, 17 de julho de 2012

Bicicletas em São Paulo


Ontem (segunda-feira) à noite, nossos personagens se encontraram novamente para papear sobre os problemas nacionais. Não vão resolver nenhum deles, mas palpite é o que não falta. Quem sabe, a qualquer hora sai alguma coisa aproveitável.

Pitolo: Li hoje nos jornais que três candidatos a prefeito de São Paulo saíram às ruas de bicicleta e se deixaram fotografar para a campanha eleitoral...
Cisso: Eu também li. Achei uma tremenda demagogia. Se fosse em outra cidade, mas logo em São Paulo...
Pitolo: Você acha que em São Paulo as pessoas não devem andar de bicicleta?

Cena comum e previsível em São Paulo: uma ciclista enfrentando dificuldades no pesado trânsito da cidade.
Cisso: Não é que não devam andar de bicicleta. É simplesmente porque não podem, a não ser nos fins de semana, a título de lazer ou esporte. Li o noticiário dos candidatos na internet e também o comentário de um leitor que, muito inteligentemente, diz que estimular o uso de bicicletas em São Paulo fora dos parques ou ciclovias é o mesmo que convidar o sujeito ao suicídio. De fato, não são poucos os casos de acidentes envolvendo ciclistas na capital paulista, inclusive com mortes. Vale o registro de que muitos desses acidentes nem mesmo são divulgados pela mídia, pois se tornaram corriqueiros. Certo tempo atrás li uma estatística informando que só os hospitais públicos de São Paulo atendem a uma média de nove ciclistas acidentados no trânsito, por dia...
Pitolo: E não seria o caso de ampliar o sistema de ciclovias?
Cisso: Onde? Numa cidade em que o espaço para os carros já é tremendamente pequeno, onde cada metro de rua é disputado como se fosse uma mina de ouro? Ampliar o sistema de ciclovias em São Paulo é pura demagogia, pois é óbvio que não há espaço para isso. Só se a cidade fosse totalmente redesenhada, mas isso também é inviável... Além do mais, a topografia da cidade de São Paulo não é das mais adequadas à circulação de ciclistas.
Pitolo: E uma redução compulsória no uso de automóveis?
Cisso: Seria o caso, mas as objeções são grandes. O próprio governo trabalha contra. Na medida em que a fabricação de automóveis é estimulada como forma de incentivar o crescimento, qualquer iniciativa de obrigar o cidadão a deixar o carro na garagem é malhar em ferro frio. Não viu as iniciativas do governo quando a indústria automobilística gritou porque os pátios estavam lotados de carros “encalhados”? O governo obrigou os bancos a baixar as taxas de juros e facilitar os financiamentos e não só fez isso como também baixou o imposto da produção, o IPI. Atendeu a indústria e contribuiu para deixar as ruas das grandes cidades ainda mais atravancadas. E não é só isso. O governo estimula a indústria automobilística a instalar mais e mais fábricas no Brasil. Incentivos fiscais são oferecidos a mancheias, financiamentos a prazos quilométricos e doações de áreas urbanas ou suburbanas de imenso valor. Eu acho errado esse critério. Quem quer instalar uma fábrica, que a instale por conta e risco próprios, como acontece em outros países mais desenvolvidos. Aliás, como acontece aqui no Brasil também, no caso de pequenos e médios empresários. Estes sim, precisariam de incentivos, mas ficam chupando o dedo, ao passo que os grandões...
Pitolo: Mas o Brasil ficaria privado das grandes fábricas...
Cisso: Não ficaria, não. O Brasil tem um mercado interno por demais atrativo e as grandes marcas viriam de qualquer forma. Uma ou outra talvez relutasse, mas não faria falta. Essa falta poderia ser suprida com vantagens por pequenas e médias indústrias que não conseguem se estabelecer, ou então não conseguem crescer, porque não contam com os mesmos incentivos dados às grandes multinacionais...
Pitolo: Incentivar as fábricas de bicicletas, por exemplo...
Cisso: De certa forma, seria mais racional que incentivar as fábricas de automóveis. Mas tudo dependeria do mercado, claro. Já vimos que em São Paulo o uso de bicicletas é problemático...
Pitolo: Parece que em São Paulo tudo é problemático...
Cisso; Claro que é. A cidade é grande demais. Você já conhece a minha opinião, Pitolo. Eu acho que a solução para São Paulo é “esvaziar” a cidade. O problema é que as autoridades trabalham na contramão, como em outros tantos casos, um exemplo nós até comentamos há pouco... O problema das grandes metrópoles não se limita a São Paulo. Claro que lá o problema é maior pois São Paulo é a maior cidade do Brasil. Na minha opinião, uma cidade fica boa para os seus habitantes até um limite de uns cinco milhões de habitantes. Daí em diante vira problema. Claro que cada caso é um caso, as particularidades variam muito. Quando uma cidade é planejada desde o seu início, como Brasília, a coisa fica mais fácil. Não é o caso de São Paulo, como não é o caso de outras grandes cidades brasileiras. Para essas, especialmente São Paulo, a solução é diminuir de tamanho para melhorar a vida de quem fica. Muita gente, muitas indústrias, muitas empresas, poderiam se mudar para cidades menores, tipo cidades médias, cidades do interior, onde a qualidade de vida é igualmente boa. Ajudariam essas cidades menores a se desenvolver e ao mesmo tempo “dariam um fôlego” para São Paulo...
Pitolo: É uma idéia radical...
Cisso: É radical, mas é a única viável. O futuro dirá se tenho ou não razão...
Imagem: http://www.mobilize.org.br


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