Narcisus
e Ptolomeu estão, mais uma vez, debatendo os assuntos brasileiros nas
costumeiras noites das segundas-feiras. Confira essa:
Pitolo: Então, Cisso, mais tranqüilo agora? Época
de férias, etc... (Nota: O Narcisus, nosso personagem de ficção Cisso, é professor
universitário e nessa época a instituição está em férias)
Cisso: Pois é, Pitolo. Pelo menos se ouvem
menos escândalos na política brasileira. Os legislativos também estão em
recesso, então...
Pitolo: Teremos uma Olimpíada logo na
sequência...
Cisso: Isso é muito bom. Pelo menos nos dá um
pouco de sossego, faz bem para nossa alma... durante o ano só vemos escândalos,
notícia ruim...
Pitolo: Você acha que os escândalos na
política brasileira de hoje em dia são maiores que antes? Sempre ouço as
pessoas falarem que antigamente os políticos eram mais decentes, mais honestos,
não havia tanta roubalheira como hoje...
Cisso: É quase impossível comprovar isso,
Pitolo. Hoje em dia existe muito mais estrutura para revelar as falcatruas
cometidas no serviço público. Antigamente não havia tribunais de contas, não
havia Lei de Responsabilidade Fiscal, os Ministérios Públicos não tinham
estrutura... além disso, agora a própria imprensa atua de forma investigativa e
descobre os escândalos...
Pitolo: Então, antigamente, os políticos podiam
aprontar à vontade...
Cisso: Isso é o que não se sabe. E jamais se
saberá. Mas também já ouvi muitas pessoas, geralmente as mais idosas, afirmarem
com convicção que os políticos de antigamente eram mais corretos. Por outro
lado, há aqueles que afirmam que a corrupção está arraigada no Brasil desde a
época da colonização portuguesa. De qualquer forma, tudo isso é chute. Para
mim, a corrupção brasileira cresceu ao longo do tempo, sim senhor, apesar dos
instrumentos de controle. É uma praga que não assola apenas os meios políticos,
mas também os empresariais, é só ver os casos dos empreiteiros desonestos que
estão por trás de muitos dos escândalos financeiros do país. Precisamos lembrar
que a corrupção sempre tem dois lados, um deles não funciona sem o outro. Se há
corruptos, também há corruptores. Sempre tem alguém do outro lado do balcão...
Pitolo: E dá pra generalizar?
Cisso: Não é o caso de generalizar, mas de
ampliar o horizonte. Basta ver que, no seio do próprio povo a honestidade
absoluta é uma exceção. Há poucos dias eu vi uma reportagem numa emissora de TV
em que o repórter testava a honestidade das pessoas deixando cair uma nota de cinqüenta
reais, falsa, é claro. A maioria das pessoas apanhava a nota e rapidamente a
enfiava num bolso, mesmo tendo visto a pessoa que a tinha “perdido”. As pessoas
que a apanhavam eram abordadas na sequência e inquiridas sobre o procedimento.
A maioria delas ficou na justificativa do “achado não é roubado”. Conclusão da
reportagem: apenas 18% das pessoas é totalmente honesta, por ter interpelado o “descuidado”
para devolver o dinheiro.
Pitolo: É impressionante...
Cisso: O povo é assim, Pitolo. É por aí que
nasce a corrupção. Nasce do “jeitinho” brasileiro, às vezes louvado como se
fosse uma virtude. Nasce das pequenas contravenções, como deixar o carro
estacionado em local proibido, em cima das calçadas, por exemplo. Nasce do
desrespeito à sinalização de trânsito, da “inocente” aposta no jogo do bicho, da
ânsia de levar vantagem em tudo... Até pouco tempo atrás, no Rio de Janeiro era
chique ser “malandro”. O malandro carioca era cantado em verso e prosa e ainda
ganhou um personagem nas histórias em quadrinhos produzidas nos Estados Unidos.
Quem não conheceu o Zé Carioca? Por aí vai... a malandragem se transforma em
contravenção, a contravenção em crime...
Pitolo: Chega, Cisso. Vai me estragar as
férias...
Imagem: http://www.jogodopoder.com/blog
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