terça-feira, 10 de julho de 2012

Dez bilhões pelo ralo. Quem paga?


Na noite da segunda-feira Cisso e Pitolo voltam a debater os assuntos relevantes da política brasileira. Veja o papo:
Pitolo: Ainda chateado com a política brasileira, Cisso?
Cisso: Chateado e preocupado, Pitolo. Andei vendo algumas notícias e fazendo algumas contas. Você sabe, Pitolo, quanto é que os candidatos às eleições municipais de outubro vão gastar nas campanhas, incluindo eventuais segundos-turnos? Tente adivinhar...
Pitolo: Todos os candidatos do Brasil inteiro? Não faço idéia, mas vá lá... deixe-me pensar...
Cisso: Pense...
Pitolo: Acho que deve passar de um bilhão de reais...
Cisso: Muito mais, Pitolo, muito mais. Eles devem torrar uma fortuna superior a dez bilhões de reais... entendeu bem? Dez bilhões de reais, Pitolo!!! É dinheiro que daria para construir duzentas mil casas populares!
Pitolo: Tudo isso? Mas é uma fábula... deixe-me fazer umas contas, Cisso...
Cisso: Fique à vontade, Pitolo...
Depois de algum tempo...
Pitolo: Não sei quanto custa um leito de hospital, Cisso. Mas peguei o custo de construção de alguns hospitais construídos ou reformados recentemente, cujos valores eu guardei. E fiz alguns cálculos. Acho que esse dinheiro todo daria para abrir, pelo menos, mais cem mil leitos hospitalares, com toda a infraestrutura necessária, desde o equipamento clínico e cirúrgico, salas de atendimento e cirurgia, entim, todo a equipagem necessária para um hospital. Seriam cem mil leitos, Cisso. Isso daria para amenizar ou até resolver o problema mais agudo da saúde pública no Brasil. Realmente, é assombroso!
Cisso: Assombroso, Pitolo? Você percebeu que nesse valor não estão incluídos os custos operacionais da eleição? As despesas que a Justiça Eleitoral vai ter, que o Poder Público vai gastar, com urnas eletrônicas, despesas de locomoção, pessoal, material e tudo o mais? Se você fizer as contas vai cair de costas...
Pitolo: Realmente, estou pasmo...
Cisso: Tem mais. Você sabe quem vai pagar essa conta, Pitolo?
Pitolo: Bem, certamente seremos nós mesmos...
Cisso: Bingo, Pitolo, bingo! É muito ingênuo quem acha que esse dinheiro todo vai sair dos bolsos dos políticos ou que o Papai Noel vai aparecer para pagar a conta. Talvez um ou outro político mais consciente acabe bancando a própria campanha. Mas serão exceções. Raras e honrosas exceções. Raríssimas, aliás.
Pitolo: O dinheiro graúdo sai das empresas, empreiteiros...
Cisso: Sim, claro. E eles vão recuperar tudo, centavo por centavo... até mesmo com lucro, se você duvidar. E a conta final fica com quem?
Pitolo: Com o povo, certamente. E tem alguma solução para isso?
Cisso: Bom, PItolo. Solução tem, mas duvido que adotem. Um caminho seria unificar todas as eleições brasileiras num único ano, fazer tudo numa tacada só. Ficaria mais barato eleger presidente, governadores, senadores, deputados, prefeitos e vereadores de uma só vez. A melhor opção seria fazer isso de cinco em cinco anos, sem nenhum direito à reeleição. Ninguém poderia se reeleger, nem presidente, nem governador, nem prefeito.
Pitolo: E o tal de financiamento público?
Cisso: Uma boa solução para acabar com as mutretas das doações de campanha. Só que não seria assim como os políticos gostariam que fosse, cada um recebendo uma quantia para gastar. Toda a divulgação deveria ser feita oficialmente, com o Poder Público promovendo e patrocinando. Cada candidato teria direito a um determinado tempo e espaço para expor seus projetos e o seu currículo na TV, no rádio e nos jornais. A divulgação dos nomes, números, fotografias, legendas, etc., seria feita em painéis expostos em vias públicas e locais pré-definidos. A Justiça Eleitoral faria isso e arcaria com os custos. E cada candidato ainda ganharia um determinado número de panfletos e santinhos para distribuir onde quisesse. Também poderia fazer certo número de comícios em praças públicas. E não poderia gastar mais nada além disso. Nem fazer outras coisas ou contratar cabos eleitorais, por exemplo. Nem receber ajuda direta ou indireta de terceiros. Isso seria também uma maneira de equilibrar o jogo político, dando mais chance aos novatos que muitas vezes estão cheios de boas intenções, mas são barrados pelas velhas raposas que não dão chance...

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