sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Cartão nem sempre é sinal de crédito


Você já teve o cartão de crédito recusado em algum estabelecimento? Se não, parabéns! Você realmente é um cidadão (ou cidadã) consciente de suas responsabilidades e muito cuidadoso(a) com as suas coisas. E, sobretudo, tem muita sorte. Porque às vezes pode acontecer, e já aconteceu com muita gente, inclusive com alguns que se consideram (ou que efetivamente são) gente importante. É o típico caso daquele chavão “isso acontece com as melhores famílias”.
E quando acontece, é aquele constrangimento medonho. É uma vergonha total, aquele caso de não se saber onde enfiar a cara. Por azar, quando acontece, acontece sempre com uma plateia presente. Presente e ululante. Torcendo pra que tudo dê errado mesmo, quanto mais errado melhor. Você olha para os lados e só vê aqueles sorrisinhos amarelos no rosto das pessoas e não sabe se é compreensão, compaixão ou gozação.
E o pior de tudo é que muitas vezes você não tem a menor culpa. Suas contas estão absolutamente em dia, a conta do cartão foi religiosamente paga, ele (o cartão) está totalmente sob controle e, enfim, não há nada de errado consigo. Mas a caixa (ou quem faça as vezes) é implacável: o seu cartão foi recusado, sinto muito! Já aconteceu comigo, mas não me abalei, pelo menos na primeira tentativa. O cartão Vixe foi recusado? Não faz mal, saquei outro: experimente passar o cartão Mastigard. A caixa: Desculpe, senhor, mas também não deu certo. Retruquei: experimente na opção débito. Lá veio: infelizmente o seu saldo não é suficiente, senhor! Tri-humilhado, não tive coragem de olhar para as pessoas da fila, simplesmente deixei as compras no carrinho, puxei minha mulher pelo braço (ainda mais essa, estava com a patroa, ela mais vermelha que um tomate em fase de pré-apodrecimento!) e sumi dali o mais rápido possível. Fui direto ao banco e entrei vociferando: o que aconteceu com os meus cartões? Com o saldo da minha conta? Exijo explicações! O bancário atendente pegou meu cartão (um deles) consultou o computador e informou: não está acontecendo nada de errado, senhor. O seu cartão está perfeitamente normal, todos eles, aliás. Seu saldo é positivo, de x reais (quantia umas dez vezes maior que a compra que fazia no maldito supermercado). Agradeci as informações e decidi voltar ao estabelecimento que me fizera passar a vergonheira. Minha mulher me dissuadiu: não vale a pena, a maquininha deles deve estar estragada, não vai adiantar nada, vão das uma desculpinha e fica tudo por isso mesmo. Conclui que ela tinha razão e deixei pra lá. Pra lá não, para aquele supermercado eu nunca mais voltei, mas o episódio me deixou com um certo trauma: todas as vezes que vou passar um cartão num estabelecimento eu fico nervoso, chego quase a suar frio.
Mas o ocorrido comigo não é nada. Tem coisa pior e, quando mencionei lá atrás que isso pode acontecer com as "melhores famílias", não estava exagerando. Veja o caso da toda-poderosa Air France. Num vôo entre Paris e Beirute, no Líbano, o avião precisou fazer um pouso de emergência em Damasco, porque em Beirute o aeroporto estava fechado. A opção seria Omã, mas o combustível não seria suficiente. A única saída foi, então, a capital síria, onde a aeronave precisava ser reabastecida. Mas aí veio o problema. O cartão da empresa foi recusado! Você deve estar pensando: mas as grandes empresas não têm crédito nos aeroportos? Não tem uma espécie de conta, não podem “por no prego” um abastecimento? Acho que até devem ter, mas no caso da Air France e da Síria, o problema é que a empresa aérea cancelou todos os seus vôos para aquele país por conta da guerra civil que está grassando por lá. E a recusa do cartão deve ter sido uma espécie de retaliação (para quem não sabe, os governos da Síria e da França não se bicam faz tempo).
O capitão da aeronave chegou a pedir aos passageiros que se preparassem para “fazer uma vaquinha” para colocar um mínimo de gasosa no tanque, o suficiente para chegar a Beirute. Todo mundo se coçou e já tinham preparado uma listinha, quando o capitão informou que a empresa “havia dado um jeito” e conseguira encher o tanque. Ninguém ficou sabendo o quantum necessário se não houvesse “acordo entre as partes”.
Muito bem. Agora, se você já teve um cartão recusado, pode ficar aliviado. Não é só com você. Acontece até com as melhores famílias.

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