terça-feira, 21 de agosto de 2012

Doutores analfabetos


A educação brasileira é o tema que Cisso e Pitolo discutiram nesta segunda-feira. Confiram.
Pitolo: Você viu que acabaram as greves nas Universidades, Cisso?
Cisso: Claro, Pitolo, eu tinha de saber, afinal trabalho numa delas. E vi o calendário de recuperação montado pelo MEC. Bem, dentro das condições em que estamos, é o que se poderia fazer. Mas é lastimável que continuemos dessa maneira. O ensino brasileiro merece um tratamento melhor. . .
Pitolo: É verdade, Cisso. Infelizmente o governo ainda não acordou para a importância do ensino. . .

Cisso: Em todos os níveis, Pitolo. Agora temos no Brasil uma infinidade de cursos superiores que formam autênticos analfabetos. Você sabia, Pitolo, que quarenta por cento da população brasileira não sabe ler direito? Muitos sabem soletrar e por isso passam por “alfabetizados”, mas não são capazes de interpretar o que soletram. São os chamados “analfabetos funcionais”. Trinta e dois por cento dos brasileiros são analfabetos funcionais. O pior de tudo, Pitolo, é que muitos desses analfabetos funcionais têm diploma superior. São doutores, ou assim são considerados em muitos lugares e por muita gente, e são analfabetos, incapazes de ler um texto e entender o que estão lendo.
Pitolo: É a prevalência da quantidade sobre a qualidade. . .
Cisso: Exatamente isso, Pitolo. Durante muito tempo, e ainda agora, existe no Ministério da Educação o entendimento de que é importante termos muitos cursos superiores. Mas a qualidade da maioria desses cursos, quase todos da iniciativa privada, é simplesmente horrorosa. Conheço jornalistas que não são capazes de escrever duas frases sem cometer pelo menos uns três erros de português. Isso sem falar da incapacidade de redigir um texto minimamente compreensível.
Pitolo: Pois é, Cisso. Por isso temos tantos profissionais despreparados.
Cisso: Exatamente. Não só os formados nos cursos superiores, mas também os dos cursos médios. Esse é um dos motivos pelos quais a indústria brasileira se ressente de bons profissionais. É comum vermos noticiários divulgando a procura por trabalhadores qualificados e, por outro lado, existe ainda um alto índice de desempregados. Hoje em dia o trabalhador que não tiver qualificação dificilmente consegue emprego. Mas não há escolas que formem esses trabalhadores qualificados. Quando há, o nível de ensino é baixo demais e os alunos não conseguem se preparar convenientemente.
Pitolo: Você já percebeu, Cisso, que quase não há escolas particulares no ensino médio formando profissionais?
Cisso: Realmente, na área tecnológica há poucas escolas privadas, talvez com exceção das ciências de computação, pois a moda atual é essa. As que atendem o público de segundo grau preferem atuar nas áreas de administração e afins. Mas o grande problema não é o das escolas particulares de segundo grau. É das públicas mesmo, além do ensino superior, deficiente em todas as instituições. Para citar um exemplo, Pitolo, eu acabei de saber que o curso de jornalismo teve a sua duração reduzida de quatro anos e meio para três anos e meio, em diversas faculdades, devido à supressão de uma matéria. Você sabe qual foi a matéria suprimida do curso de jornalismo, Pitolo?
Pitolo: Não sei, Cisso. Realmente, não sei. . .
Cisso: Pois pasme. Suprimiram o ensino da língua portuguesa no curso de jornalismo. Pode isso? É a mesma coisa que suprimir o cálculo no curso de engenharia. Se já tínhamos jornalistas que não sabem escrever, agora a coisa vai ficar pior ainda. Sinceramente, não sei onde vamos parar com o nosso nível de educação. . .
Pitolo: Mas com que argumento acontece uma coisa dessas?
Cisso: Outra pérola, Pitolo. “Autoridades” do Ministério da Educação alegaram que o português deve ser ensinado e aprendido no curso médio, no segundo grau. O aluno já deve chegar à faculdade preparado nessa área, Agora eu pergunto: e quando um cidadão resolve mudar de área? Um moço que tenha feito o segundo grau com especialização em mecânica, por exemplo, que não “puxa” muito o ensino da língua portuguesa, e percebe que essa não é a sua vocação. Quer mudar e resolve estudar jornalismo. E como é que esse moço fica?
Pitolo: E de quem são essas idéias geniais, Cisso?
Cisso: Sei lá. Deve ser obra de algum pedagogo “iluminado” lá do Ministério da Educação. O problema das nossas autoridades nessa área é a preocupação exagerada com as aparências e o desprezo pelo conteúdo. Importa mais o nome pomposo que tem a faculdade ou a universidade e a sonoridade da sua sigla, do que a qualidade do ensino que oferece. A pompa do nome do curso também é importante. Se o bacharel entende alguma coisa de algo, é apenas um detalhe secundário.
Imagem: http://darkdot.blogspot.com.br e http://redebonja.cbj.g12.br


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