A
educação brasileira é o tema que Cisso e Pitolo discutiram nesta segunda-feira.
Confiram.
Pitolo:
Você viu que acabaram as greves nas Universidades, Cisso?
Cisso:
Claro, Pitolo, eu tinha de saber, afinal trabalho numa delas. E vi o calendário
de recuperação montado pelo MEC. Bem, dentro das condições em que estamos, é o
que se poderia fazer. Mas é lastimável que continuemos dessa maneira. O ensino
brasileiro merece um tratamento melhor. . .
Pitolo:
É verdade, Cisso. Infelizmente o governo ainda não acordou para a importância
do ensino. . .
Cisso:
Em todos os níveis, Pitolo. Agora temos no Brasil uma infinidade de cursos
superiores que formam autênticos analfabetos. Você sabia, Pitolo, que quarenta
por cento da população brasileira não sabe ler direito? Muitos sabem soletrar e
por isso passam por “alfabetizados”, mas não são capazes de interpretar o que
soletram. São os chamados “analfabetos funcionais”. Trinta e dois por cento dos
brasileiros são analfabetos funcionais. O pior de tudo, Pitolo, é que muitos
desses analfabetos funcionais têm diploma superior. São doutores, ou assim são
considerados em muitos lugares e por muita gente, e são analfabetos, incapazes
de ler um texto e entender o que estão lendo.
Pitolo:
É a prevalência da quantidade sobre a qualidade. . .
Cisso:
Exatamente isso, Pitolo. Durante muito tempo, e ainda agora, existe no
Ministério da Educação o entendimento de que é importante termos muitos cursos
superiores. Mas a qualidade da maioria desses cursos, quase todos da iniciativa
privada, é simplesmente horrorosa. Conheço jornalistas que não são capazes de
escrever duas frases sem cometer pelo menos uns três erros de português. Isso
sem falar da incapacidade de redigir um texto minimamente compreensível.
Pitolo:
Pois é, Cisso. Por isso temos tantos profissionais despreparados.
Cisso:
Exatamente. Não só os formados nos cursos superiores, mas também os dos cursos
médios. Esse é um dos motivos pelos quais a indústria brasileira se ressente de
bons profissionais. É comum vermos noticiários divulgando a procura por trabalhadores
qualificados e, por outro lado, existe ainda um alto índice de desempregados.
Hoje em dia o trabalhador que não tiver qualificação dificilmente consegue
emprego. Mas não há escolas que formem esses trabalhadores qualificados. Quando
há, o nível de ensino é baixo demais e os alunos não conseguem se preparar
convenientemente.
Pitolo:
Você já percebeu, Cisso, que quase não há escolas particulares no ensino médio
formando profissionais?
Cisso:
Realmente, na área tecnológica há poucas escolas privadas, talvez com exceção
das ciências de computação, pois a moda atual é essa. As que atendem o público
de segundo grau preferem atuar nas áreas de administração e afins. Mas o grande
problema não é o das escolas particulares de segundo grau. É das públicas mesmo,
além do ensino superior, deficiente em todas as instituições. Para citar um
exemplo, Pitolo, eu acabei de saber que o curso de jornalismo teve a sua duração
reduzida de quatro anos e meio para três anos e meio, em diversas faculdades,
devido à supressão de uma matéria. Você sabe qual foi a matéria suprimida do
curso de jornalismo, Pitolo?
Pitolo:
Não sei, Cisso. Realmente, não sei. . .
Cisso:
Pois pasme. Suprimiram o ensino da língua portuguesa no curso de jornalismo.
Pode isso? É a mesma coisa que suprimir o cálculo no curso de engenharia. Se já
tínhamos jornalistas que não sabem escrever, agora a coisa vai ficar pior
ainda. Sinceramente, não sei onde vamos parar com o nosso nível de educação. .
.
Pitolo:
Mas com que argumento acontece uma coisa dessas?

Pitolo:
E de quem são essas idéias geniais, Cisso?
Cisso:
Sei lá. Deve ser obra de algum pedagogo “iluminado” lá do Ministério da
Educação. O problema das nossas autoridades nessa área é a preocupação
exagerada com as aparências e o desprezo pelo conteúdo. Importa mais o nome pomposo
que tem a faculdade ou a universidade e a sonoridade da sua sigla, do que a
qualidade do ensino que oferece. A pompa do nome do curso também é importante.
Se o bacharel entende alguma coisa de algo, é apenas um detalhe secundário.
Imagem: http://darkdot.blogspot.com.br e http://redebonja.cbj.g12.br
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