terça-feira, 7 de agosto de 2012

O “discurso do medo” incentiva atentados


Cisso e Pitolo estão novamente a debater assuntos interessantes. Nessa segunda-feira a questão fugiu dos habituais temas nacionais, mas o interesse também é grande quando o debate aborda uma matéria internacional. Acompanhe.
Pitolo: Acompanhando as Olimpíadas, Cisso?
Cisso: Claro, Pitolo, claro. Vibrei muito com a proeza do nosso Artur Zanetti, o Rei Artur ou, como a imprensa européia preferiu chamar, o “Senhor dos Anéis”.
Pitolo: Mas na semana passada você não estava criticando o esporte brasileiro, Cisso?

Cisso: Sim, estava, e não mudei de opinião. Aliás, é bom esclarecer: eu estava criticando a organização do esporte brasileiro, e não o esporte propriamente dito. Mais uma vez repito, não mudei de opinião. O fato de criticar as autoridades que têm por obrigação organizar o esporte nacional não me impede de torcer pelos nossos atletas. E vou vibrar cada vez que um deles consiga sucesso na Olimpíada e sei, antecipadamente, que aquele, ou aquela, que atingir o seu objetivo, ficará devendo esse sucesso muito mais ao seu próprio esforço do que ao incentivo ou ajuda de quem quer que seja. O próprio Zanetti é uma prova viva do que estou dizendo. . .
Pitolo: Nesse ponto você têm razão. Mas vamos mudar de assunto. Você está acompanhando o julgamento do mensalão?
Cisso: Sim, também acompanho o julgamento. Mas ainda é cedo para fazer qualquer avaliação. Tem um outro assunto que está me intrigando bastante. . .
Pitolo: E qual é essa preocupação?
Cisso: Você viu que lá nos Estados Unidos ocorreu mais um massacre de pessoas inocentes? Agora foi num templo religioso de uma comunidade indiana, na cidade de Tucson, no Arizona. Sete pessoas morreram, incluindo o assassino. . .
Pitolo: Essas coisas geralmente não comovem muito a gente, pois acontecem lá longe, em outro país, em outra realidade. . .
Cisso: Na verdade, não é o fato em si que preocupa. Já aconteceram outros casos, inclusive mais graves, com mais vítimas. Aqui no Brasil também tivemos casos semelhantes. . .
Pitolo: Já sei. A sua preocupação é com a disseminação desses casos, geralmente provocados por um paranóico qualquer, que na maioria dos casos se julga um iluminado agindo por conta de fatores extraterrenos. . .
Cisso: Em parte é isso, Pitolo, mas não é tudo. Eu li um artido de um advogado norteamericano, o Dr. Michael McNulty, publicado no New York Times e traduzido pela jornalista Anna Capovilla, do Estadão. Ele aponta um fator até agora pouco conhecido, mas altamente preocupante. Os cidadãos dos Estados Unidos deveriam ficar realmente preocupados e o Congresso norteamericano devia tomar algum tipo de providência antes que o mal se espalhe ainda mais. . .
Pitolo: E qual é esse fator, Cisso? Alguma coisa secreta. Afinal, os norteamericanos são especialistas nessas questões de segredo de Estado. . .
Cisso: Na verdade não é nenhum segredo de Estado, Pitolo. É uma coisa que o Dr. McNulty chama de “discurso do medo”. . .
Pitolo: Nunca ouvi falar. . .
Cisso: Eu também não tinha ouvido isso antes. Mas é coisa séria. Você sabe que nos EUA a venda de armas é liberada e o porte delas também é facilitado. Qualquer pessoa pode comprar uma arma livremente e andar com ela por aí... por aqui, não, é claro, estou me referindo aos Estados Unidos. Apenas alguns Estados têm uma pequena restrição ao porte, mas no geral a coisa é livre. É como se ainda estivéssemos nos tempos do faroeste.
Pitolo: Os fabricantes de armas devem gostar dessa situação. . .
Cisso: Claro, PItolo. Os fabricantes estão nadando de braçadas... nada como a liberdade para os cidadãos comprarem armas à vontade. . .
Pitolo: Mas esses atentados e mortes em massa devem deixar os fabricantes em alerta. . . as pessoas devem estar pensando em se livrar das armas, restringir o uso delas. . .
Cisso: Aí é que você se engana, Pitolo. É exatamente o contrário. As indústrias do armamento, que são representadas por uma associação, uma tal de Associação Nacional do Rifle, ficam exultantes quando acontece um caso desses. Aí é que entra em cena o tal de “discurso do medo”, a indústria das armas passa à ofensiva e procura instilar o medo no povo, induzindo-o a comprar ainda mais armas, a andar armado em todas as circunstâncias. Eles espalham a idéia de que a pessoa só poderá se proteger se andar armada. . .
Pitolo: Devia ser o contrário. . .
Cisso: É verdade, PItolo, devia ser o contrário. Se houvesse menos armas em circulação haveria menos violência. Infelizmente essa não é a avaliação do povo norteamericano. Eles acham que andar armados é a melhor forma de defesa.
Pitolo: Nós sabemos que não é assim. . .
Cisso: Sim, PItolo. Mas eles não. Alguns cidadãos de bom senso estão procurando pressionar o Congresso norteamericano para que seja aprovada uma lei de restrição ao uso de armas de fogo. Mas não há muita esperança. Lá existe um fortíssimo lobby dos fabricantes, através da tal de ANR, que financia as campanhas eleitorais de muitos congressistas. Além disso, o instinto belicista arraigado na consciência deles também atrapalha. ..
Pitolo: Não vai ter jeito, então. . .
Cisso: Bom a polêmica está aberta. E já tem muita gente lá mesmo nos Estados Unidos, pessoal da intelectualidade norteamericana, que está abrindo os olhos. Vamos ver se as coisas mudam por lá. . .

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