A
Câmara de Vereadores de Campinas, interior de São Paulo, aprovou, por
unanimidade, um projeto de lei apresentado pelo edil Francisco Sellin, que
institui o “velório virtual” nos cemitérios públicos do município. Segundo o
autor do projeto, a iniciativa proporcionará uma oportunidade para que os
amigos e parentes do (ou da) falecido(a) possam acompanhar o velório mesmo à
distância.
Trata-se,
portanto, de uma espécie de “transmissão ao vivo”, por assim dizer, dos
velórios que ocorrem nas capelas mortuárias anexas aos cemitérios municipais de
Campinas. Essa transmissão, evidentemente, será feita por um site especial da municipalidade
campinense na internet.
O
projeto de lei, embora já aprovado em discussão final na Câmara de Campinas, ainda
não recebeu a sanção do prefeito, mas essa formalidade é dada como “favas
contadas”, já que a iniciativa partiu da própria bancada situacionista. Mas a
“novidade” não é exclusiva da cidade paulista. Em outras também já existe esse
“serviço”, como Salvador, por exemplo. E a tendência é a expansão.
Os
cidadãos mais tradicionais só esperam que o novo “modelo” não venha a ter
desdobramentos tão a gosto da tecnologia modernosa. Como já existem negócios
virtuais, reuniões virtuais, ensino virtual, namoros virtuais e até mesmo
casamentos virtuais (e agora os velórios virtuais), podem perfeitamente
aparecer outras formas de relacionamento virtual, como o batismo religioso e as
consultas médicas (por exemplo). Ainda bem que a tecnologia não avançou o
suficiente para que o relacionamento humano destinado à procriação (e outros
atrativos paralelos) seja também instituído na forma virtual e a esperança dos
tradicionalistas repousa (sem trocadilho) na (ainda) certeza de que essa
possibilidade não seja alcançada tão cedo (embora a fauna tecno-modernista
tenha produzido espécimes que prefiram o uso do computador pra todos os fins,
inclusive para aqueles que sempre foram mais eficazes – ou mais adequados, ou
mais agradáveis – na forma pessoal). Enfim...
Mas
a novidade de Campinas também pode propiciar o surgimento de um novo mercado de
trabalho, com novas funções, como cenógrafos, iluminadores e assemelhados.
Participantes do velório – a exceção do morto, presume-se – certamente
gostariam de aparecer mais bem arrumados nas “transmissões ao vivo” e, por
isso, haveria um novo mercado para cabeleireiros e manicures, além de alfaiates
e costureiras (estou ficando mesmo velho e ultrapassado: a moda atual é dizer
“figurinistas”) e etecéteras do gênero. O “velório ao vivo” também poderia
criar oportunidades para “narradores de velório” e também para comentaristas,
que assim dariam mais “ânimo” à cerimônia ou, pelo menos, à sua transmissão.
Alguém já imaginou o José Luiz Datena narrando um velório? Haveria outros que
prefeririam para tal coisa uma narração com a voz cavernosa de um Cid Moreira.
Como tem gosto pra tudo, outros já pensariam em contratar o Galvão Bueno. Com
comentários da Miriam Leitão, para equilibrar as coisas. E se a turma do
“Pânico” aparecer? Tem também a questão das músicas. Velório com música ou sem
música? Que tipo de música? Então entram em cena os DJs, os operadores de som
etc etc. Que mais? Talvez seja a ressurreição (também sem trocadilho) das
carpideiras de priscas eras... Enfim...
Fiel
às tradições, inclusive as fúnebres e as sepulcrais, estou seriamente pensando
em deixar um documento de últimos desejos dispensando totalmente o velório
virtual. Carnaval em cima do meu cadáver? Nem morto! Quem quiser que venha participar
ao vivo.
Imagem: http://www.metro1.com.br
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