sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Velório virtual vira lei em Campinas



A Câmara de Vereadores de Campinas, interior de São Paulo, aprovou, por unanimidade, um projeto de lei apresentado pelo edil Francisco Sellin, que institui o “velório virtual” nos cemitérios públicos do município. Segundo o autor do projeto, a iniciativa proporcionará uma oportunidade para que os amigos e parentes do (ou da) falecido(a) possam acompanhar o velório mesmo à distância.

Trata-se, portanto, de uma espécie de “transmissão ao vivo”, por assim dizer, dos velórios que ocorrem nas capelas mortuárias anexas aos cemitérios municipais de Campinas. Essa transmissão, evidentemente, será feita por um site especial da municipalidade campinense na internet.
O projeto de lei, embora já aprovado em discussão final na Câmara de Campinas, ainda não recebeu a sanção do prefeito, mas essa formalidade é dada como “favas contadas”, já que a iniciativa partiu da própria bancada situacionista. Mas a “novidade” não é exclusiva da cidade paulista. Em outras também já existe esse “serviço”, como Salvador, por exemplo. E a tendência é a expansão.
Os cidadãos mais tradicionais só esperam que o novo “modelo” não venha a ter desdobramentos tão a gosto da tecnologia modernosa. Como já existem negócios virtuais, reuniões virtuais, ensino virtual, namoros virtuais e até mesmo casamentos virtuais (e agora os velórios virtuais), podem perfeitamente aparecer outras formas de relacionamento virtual, como o batismo religioso e as consultas médicas (por exemplo). Ainda bem que a tecnologia não avançou o suficiente para que o relacionamento humano destinado à procriação (e outros atrativos paralelos) seja também instituído na forma virtual e a esperança dos tradicionalistas repousa (sem trocadilho) na (ainda) certeza de que essa possibilidade não seja alcançada tão cedo (embora a fauna tecno-modernista tenha produzido espécimes que prefiram o uso do computador pra todos os fins, inclusive para aqueles que sempre foram mais eficazes – ou mais adequados, ou mais agradáveis – na forma pessoal). Enfim...
Mas a novidade de Campinas também pode propiciar o surgimento de um novo mercado de trabalho, com novas funções, como cenógrafos, iluminadores e assemelhados. Participantes do velório – a exceção do morto, presume-se – certamente gostariam de aparecer mais bem arrumados nas “transmissões ao vivo” e, por isso, haveria um novo mercado para cabeleireiros e manicures, além de alfaiates e costureiras (estou ficando mesmo velho e ultrapassado: a moda atual é dizer “figurinistas”) e etecéteras do gênero. O “velório ao vivo” também poderia criar oportunidades para “narradores de velório” e também para comentaristas, que assim dariam mais “ânimo” à cerimônia ou, pelo menos, à sua transmissão. Alguém já imaginou o José Luiz Datena narrando um velório? Haveria outros que prefeririam para tal coisa uma narração com a voz cavernosa de um Cid Moreira. Como tem gosto pra tudo, outros já pensariam em contratar o Galvão Bueno. Com comentários da Miriam Leitão, para equilibrar as coisas. E se a turma do “Pânico” aparecer? Tem também a questão das músicas. Velório com música ou sem música? Que tipo de música? Então entram em cena os DJs, os operadores de som etc etc. Que mais? Talvez seja a ressurreição (também sem trocadilho) das carpideiras de priscas eras... Enfim...
Fiel às tradições, inclusive as fúnebres e as sepulcrais, estou seriamente pensando em deixar um documento de últimos desejos dispensando totalmente o velório virtual. Carnaval em cima do meu cadáver? Nem morto! Quem quiser que venha participar ao vivo.


comente esta matéria
ou mande um e-mail para
Sua opinião é muito importante para o
direcionamento das abordagens deste blog.
O autor agradece a sua participação
 

Nenhum comentário: