terça-feira, 14 de agosto de 2012

Esportes sem politicagem, a solução


Nesta segunda-feira Cisso e Pitolo debateram a Olimpíada e o futuro dos esportes no Brasil. Vejam o diálogo:
Pitolo: Então, Cisso, curtiu muito a Olimpíada?
Cisso: Claro, Pitolo, claro! Acompanhei e torci muito pelos atletas brasileiros. Só fiquei triste por termos perdido duas medalhas de ouro quase certas, no futebol e voleibol masculinos . . . mas enfim, as derrotas também fazem parte do esporte . . .
Pitolo: Há quinze dias vice dizia que o esporte brasileiro estava pedindo socorro, que não teríamos muito sucesso nos jogos porque falta estrutura no Brasil. Estou vendo agora que muita gente está dizendo a mesma coisa. Depois da onça morta é fácil por o pé em cima e tirar a foto. O seu mérito é ter antecipado isso tudo, Cisso. Nos primeiros dias dos jogos você já estava apontando a carência brasileira no esporte. Acho que você continua com a mesma avaliação, não é mesmo? (Para ver o diálogo de Cisso e Pitolo de duas semanas atrás, acesse “O esporte brasileiro pede socorro”)
Cisso: Continuo com a mesma opinião, Pitolo. A Olimpíada apenas veio confirmar aquilo que as pessoas mais sensatas já vinham afirmando há muito tempo. O Brasil não possui uma infraestrutura mínima de formação de atletas, principalmente nos
esportes individuais, aqueles que geram pouca visibilidade nos meios de comunicação. Esses esportes costumam não ter o devido patrocínio empresarial justamente por aparecerem muito pouco na chamada “mídia”. Como o retorno em termos promocionais é pequeno, os empresários não se interessam pelo patrocínio. Por seu turno, o poder público também não incentiva esses esportes. O resultado é esse que todos estão vendo, um pífio desempenho na maior competição esportiva do planeta.
Pitolo: Você naturalmente considera que o 22º lugar que o Brasil alcançou não é razoável. . .
Cisso: Veja bem, Pitolo. O Brasil é o 5º país do mundo em termos de população. Perdemos apenas para a China, para a Índia, para os EUA e para a
Indonésia. Em termo de economia, somos o 7º do mundo, perdendo para EUA, China, Japão, Alemanha, Reino Unido e França. Se dividirmos o Reino Unido nos seus três membros, Inglaterra, Escócia e País de Gales, como eles gostam de fazer, passamos a ser a 6ª economia do mundo. Em área territorial também somos o 5º do mundo, atrás apenas da Rússia, Canadá, China e EUA. Além disso, o Brasil é o maior produtor mundial de alimentos. Então você não acha lógico que, no campo esportivo, deveríamos ficar, pelo menos, entre os dez primeiros do mundo? No entanto, somos apenas o vigésimo segundo. É muito pouco . . .
Pitolo: Mas os atletas brasileiros não têm culpa . . .
Cisso: Os atletas brasileiros são verdadeiros heróis. Todos eles merecem nossa homenagem, nossos aplausos, muitos aplausos. Todos eles. Mesmo aqueles que foram derrotados, aqueles que não alcançaram medalhas e também aqueles que nem sequer conseguirar ir à Olimpíada. Esses atletas enfrentam verdadeiros dramas para praticarem o esporte, cada um em sua modalidade. Tirando os atletas profissionais que têm visibilidade na imprensa, como os do futebol, do voleibol, do basquete e outros menos votados, os demais são heróis em todos os sentidos, que precisam vender coxinhas para pagar passagens de ônibus ou treinar boxe esmurrando troncos de bananeira em fundo de quintal, como os irmãos Falcão. Até acho que deveria incluir aí as jogadoras do futebol feminino, que também não tem visibilidade e, portanto, ficam como nômades, pra cá e pra lá, de clube em clube, de cidade em cidade, até em clubes de Europa . . .
Pitolo: Você vê alguma solução em curto prazo?
Cisso: A curto prazo vai ser difícil, Pitolo. Mesmo para a próxima Olimpíada, que acontecerá no Rio de Janeiro, acho que o Brasil ainda não vai se destacar, a não ser por um ou outro atleta que já esteja em fase de preparação. Alguns desses que estiveram em Londres talvez possam evoluir . . . mas a preparação de um atleta não se faz de uma hora para a outra. Isso requer tempo, dez, quinze anos... vinte anos, às vezes. . .
Pitolo: E a longo prazo?
Cisso: Aí vai depender da vontade política dos nossos governantes. Já está provado, e isso vale para o mundo inteiro, que o desenvolvimento do esporte só de dá quando há interferência do poder público. Até mesmo os patrocinadores privados ficam dependendo de incentivos oficiais. Aí talvez esteja uma solução, ou uma parte da solução: os incentivos fiscais para as empresas que investirem em esportes. Até acho que já existe alguma coisa nesse sentido, mas é algo muito tímido, muito pequeno, que não está atraindo ninguém. E tem muita politicagem no meio, os incentivos não chegam a quem realmente precisa, os atletas. É preciso desenvolver algo mais audacioso, incentivos mais palpáveis, para que as empresas comecem a investir em esportes. Cabe ao governo desenvolver idéias como essa . . .
Pitolo: Você mesmo havia falado em esportes nas bases . . .
Cisso: Exatamente. É outro caminho para o desenvolvimento esportivo. Patrocinar projetos de práticas esportivas em bairros e cidades do interior. Veja você que a maioria dos nossos atletas dos esportes individuais é proveniente de pequenas cidades do interior brasileiro. A iniciativa poderia começar pelas escolas, por exemplo. Dotar as escolas de equipamentos e locais apropriados para a prática. Os alunos que se destacarem poderiam ser encaminhados a um centro mais especializado. Enfim, existem muitas formas, bastaria que fosse elaborado um plano de desenvolvimento dos esportes e fosse conduzido com seriedade e, principalmente, sem politicagem, essa praga que atrapalha tudo o que se poderia fazer de bom neste país . . .
Na foto, obras de implantação do Centro da Juventude do Jardim Coopagro, em Toledo (PR).
Imagem: http://www.toledo.pr.gov.br


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