Você já imaginou o sábio Albert Einstein
correndo atrás de uma bola de futebol com a camisa do Barcelona (ou do Bayern
de Munique)? Ou então o genial Messi tocando violino na orquestra de André
Rieu? Eles são gênios, é verdade, mas cada um na sua. Não existe um só vivente
na face da Terra que seja especialista em todas as áreas da atividade humana. O
ensaio sobre a inteligência aborda esses e outros aspectos dessa faculdade que
é exclusiva dos chamados homo sapiens (alguns nem tanto).
Qual
dos dois seria mais inteligente: Albert Einstein ou Pelé? Ambos foram
considerados gênios em suas respectivas especialidades, mas já imaginou o “rei
do futebol” às voltas com um complexo problema de física? Ou o irreverente
gênio da relatividade correndo atrás de uma bola num campo de futebol? Cada um
na sua, claro. Cada um no seu quadrado, como se diz atualmente.
Pensando
bem, a inteligência humana é uma coisa complicada. Como diria a jornalista
Maira Lie Chao, num artigo da revista Planeta publicado em novembro de 2010,
”essa faculdade é tão complexa que, não por acaso, ainda não se chegou a um
conceito universalmente aceito”. A definição mais admitida no mundo científico,
atualmente, é aquela dada pelo psicólogo norteamericano Howard Gardner, segundo
o qual a inteligência é “a habilidade de resolver problemas ou criar produtos
de valor nos ambientes culturais nos quais se está inserido”.
A
forma mais comum de determinar a inteligência de uma pessoa é, hoje em dia, o
teste de QI. Não é aquele famoso QI das nomeações políticas, o “quem indica”,
mas sim, o “quociente de inteligência” desenvolvido no início do século passado
pelos psicólogos William Stern (alemão) e Lewis Madison Terman (norteamericano)
com base em estudos anteriores de Alfred Binet (francês). Sim, esse teste é do
começo do século passado: foi criado em 1914, aperfeiçoado em 1918 e, até hoje,
não apareceu nenhum outro mais eficiente. Mesmo assim, não serve para muita
coisa, pois na maioria dos casos dá uma furada inglória, como numa pesquisa
realizada por um psicólogo norteamericano, Lewis Terman, da Universidade
Stanford. Terman pegou um grupo de mais de mil pessoas com QI elevado (superior
a 140) e estudou a sua evolução na vida. Apenas 20% deles se sairam
relativamente bem, vindo a ocupar cargos importantes em grandes empresas ou
obtendo sucesso em profissões liberais. Outros 20% deram-se mal à beça. Foram
simplesmente medíocres na dura labuta pela vida. Alguns não passaram do ensino
médio, outros acabaram como vendedores de livros de porta em porta. Sem falar
de uns poucos que se perderam completamente e caíram nas sarjetas da vida. E os
outros 60%? Pensam que viraram gênios? Na-na-ni-na-não!!! Foram apenas cidadãos
comuns, como quaisquer outros de QI menos impressionante. Na média, na média.
Nada mais que na média!
Ter
QI alto, portanto, não significa, necessariamente, uma garantia de sucesso na
vida. Pode até ser, mas não é regra. Conforme os estudos de outro psicólogo
norteamericano (como é rara essa fauna, né?), Malcolm Gladwell, o QI mede
apenas uma das formas intelectuais que constituem a inteligência humana, a
forma lógico-matemática. Gladwell propagou a teoria de Howard Gardner (lembram
da definição?), segundo a qual a inteligência é distribuída em oito formas
intelectuais diferentes: a linguística (Shakespeare é o exemplo mais típico); a
musical
(John Lennon – além de outros); a lógico-matemática (Albert Einstein); a visual-espacial
(Oscar Niemeyer), a cinestética (Pelé, Messi etc); a interpessoal
(Barack Obama, Ângela Merkel – e Lula, claro!); a intrapessoal (Mahatma Ghandi,
Nelson Mandela) e a naturalista (Marina Silva é o que temos à mão).
Diz
o psicólogo Gardner que uma criança nasce dotada de todas as formas de
inteligência, mas acaba desenvolvendo apenas uma delas. Duas, no máximo. As
demais tenderão a ficar lá, no fundo da cuca, escondidinhas. Nenhum ser humano
seria capaz de desenvolver todas elas. Agora vamos à polêmica: seria possível
orientar uma criança a desenvolver este ou aquela forma intelectual? Albert
Einstein teria sido um cracasso de bola se tivesse entrado na escolinha de
futebol do Bayern de Munique? Messi seria o spalla
(concertino para os portugueses) da
orquestra de André Rieu se tivesse estudado música? São perguntas que não
querem calar, diante da afirmação de Gardner de que, na evolução cerebral das
crianças, influem decisivamente outros fatores, como o contexto histórico,
oportunidades e esforço orientado. E desmente a crença geral de que o cérebro
da criança só assimila “novidades” até os três anos de idade. De acordo com a
teoria de Gardner, em qualquer idade a pessoa pode enveredar por novos caminhos
intelectuais, embora a idade mais tenra, até os três anos, seja, de fato, a
mais adequada para isso. E quanto à questão do Messi violinista ou do Einstein
boleiro? Como não há uma orientação sobre esses casos (mesmo porque se
desconhece se o Messi tentou estudar música um dia ou se o Einstein chegou a
bater uma bolinha), cada um que fique com a sua convicção (ou a sua dúvida).
A
história da inteligência tem mais um enfoque: é o caso da moderna tecnologia,
internet, joguinhos eletrônicos, tablets,
computadores, essa parafernália tecnológica toda. Muitas pessoas dizem que a
iniciação dos jovens nesse universo tende a restringir as atividades cerebrais
e, assim sendo, dentro em breve o mundo inteiro estaria povoado por verdadeiras
toupeiras em matéria de inteligência. Mas os estudiosos discordam. O escritor
canadense Don Tapscott, autor do livro A
Hora da Geração Digital defende a tese de que a tenologia, de fato, provoca
um impacto na Inteligência dos seus usuários, mas geralmente de forma benigna.
Isto é, a tecnologia estimularia alguns tipo de raciocínio e, em alguns casos,
a percepção visual e a capacidade espacial. Segundo Tapscott, o uso do
computador e da internet está remodelando a maneira como as pessoas absorvem e
divulgam conhecimento, podendo mesmo gerar novas formas de inteligência no
futuro.
Ah,
e tem também a questão da inteligência emocional, um tema novo que está “na
ordem do dia”, após a publicação da obra com este mesmo nome, do psicólogo
norteamericano (ufa!) Daniel Goleman. A inteligência emocional estaria
diretamente ligada às formas interpessoal e intrapessoal propostas por Gardner.
Mas esse é um assunto para outra abordagem.
Pois
então: para entender a inteligência é mesmo preciso ser muito inteligente.
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