Dona Valentina estava preocupada quando ligou para a comadre
(dela):
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Cê viu a senvergonhice na ‘Grobo’, Francisca?
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Que senvergonhice, Tina?
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O ‘estrupo’ da moça na festa do ‘bebebê’. Cê não tá assistindo o ‘bebebê’,
Francisca?
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Tô sim, mas nem liguei pro caso do ‘estrupo’. Acho que é tudo marmelada...
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É mesmo, todo mundo sabe que é marmelada, mas o Pedro ‘Bilau’ ainda vem com a
conversa que a ‘Grobo’ mandou o rapaz pra rua porque ele abusou da moça. Ora, faz
favor, a moça vai deitar pelada do lado do rapaz e quer que ele fique quieto...
Pois então, senhoras e senhores. Abriu-se assim mais uma grande e
importantíssima polêmica no cenário sócio-cultural-policial do Brasil. A
polícia do Rio de Janeiro (que tem muito pouca coisa para fazer, afinal no Rio
quase não há criminalidade, não é mesmo?) abriu um inquérito. O caso só não foi
parar (ainda) no Congresso Nacional porque os parlamentares estão em recesso (felizmente).
Um discreto e educativo programa televisivo da maior rede
brasileira foi palco das cenas que deram origem a essa sublime controvérsia:
teria ou não teria havido o estupro de uma casta donzela que tomou um porre
homérico (sem querer, evidentemente) e foi dormir ao lado de um rapaz dito
afrodescendente (que outro epíteto pode gerar processo). O infausto evento
teria ocorrido durante o desenvolvimento do citado programa, o qual reúne uma
caterva de rapazes e moças que se obrigam a conviver numa casa durante um
determinado tempo sem ter clara e absolutamente o que fazer, a não ser o
cumprimento de certas “tarefas” abiloladas ditadas pela produção do programa e,
claro, as obrigações típicas de qualquer monastério que se preze.

O mérito da questão – se é que há algum mérito nisso – não fica
claro, nem poderia. Afinal, a causa delicti
aconteceu debaixo dos lençóis – de um edredom, no caso, que o ar condicionado
estava ligado (se não estivesse, também...). Como ninguém viu a cena real,
fica-se só nas conjeturas, o que, afinal, pode ser até mais grave – ou mais
licencioso – do que a coisa ao vivo.
Mas que o caso rendeu, isso rendeu! Para gáudio ($$$), regozijo ($$$) e satisfação
($$$) da dona do programa, a intangível Rede Globo de Televisão.
Pode ser que muitos dos aficionados do BBB não gostem de futebol,
mas este esporte tem uma fórmula que evita dúvidas dessa natureza. Existem os
árbitros auxiliares, popularmente conhecidos por “bandeirinhas”, que têm, entre
outras atribuições, a de acompanhar lances de polêmica interpretação, como os
casos em que é crucial saber se a bola entrou ou não entrou (na meta de gol, bem
entendido).
Mas, Dona Valentina, não se apoquente. Estamos no Brasil, onde as
mais nobres casas, inclusive (e principalmente) as oficiais, têm casos muito
mais escabrosos acontecendo debaixo dos panos do que a nossa vã filosofia pode
imaginar. O ‘estrupo’ é fichinha... e o ‘bebebê’ também é ‘curtura’...