Entramos no último ano das nossas
vidas. Todos nós. É bem isso o que dizem as profecias do apocalipse baseadas no
calendário dos maias, aquele que indica o dia 21 de dezembro de 2012 como o fim
dos tempos. Daqui a menos de um ano. Não dá pra dizer que a “Terra vai pro
espaço” porque ela já está nele. E nós também, evidentemente, a bordo do dito
cujo planeta. Os maias, um povo que, em priscas eras, habitou a região onde
hoje ficam o México e a Guatemala, deixou alguns descendentes após o seu
misterioso desaparecimento, por volta do ano 900. Não se sabe se o Tim Maia e o
César Maia (aquele que foi prefeito do Rio de Janeiro), ou ainda, o Marco Maia,
presidente da Câmara dos Deputados, estão entre esses descendentes ou se são oriundos
dos maias portugueses, que não
inventaram nenhum calendário mas estrelaram aquela obra clássica de Eça de
Queirós, Os Maias. Estes, enfim, não
têm nada a ver com a história do fim do mundo (mesmo sendo políticos - e apesar de serem). Mesmo com toda a celeuma em torno do assunto, tem muita gente que não acredita no
calendário do povo maia ou, por outra, não acredita que esse calendário aponte
o fim dos tempos. A maioria, aliás, não acredita. Nem eu.
Maias a mais ou maias a menos,
deixemo-los. Todavia existem outras versões do apocalipse. Entre elas a
bíblica. Muita gente acredita na Bíblia. Só que, na versão bíblica, não há uma
data certa para a ocorrência do fenômeno. O que é uma vantagem, porque sempre é
possível dizer “eu não avisei?” Só que, nesse caso, o autor da previsão já
bateu as cachuletas faz tempo, muito tempo. Cientificamente já se concluiu que,
de fato, um dia qualquer o nosso mundo vai acabar. Pode ser daqui a um bilhão
de anos ou ainda mais, mas que um dia acaba, acaba. Isso é certo. Também é
certo que nós não estaremos aqui quando isso acontecer, a não ser que voltemos
reencarnados (ou ressuscitados, o que, afinal, também é um tema apocalíptico).
Mas aí já é outra história.
Quanto à história bíblica,
descobriu-se que o texto do fim do mundo foi escrito no fim do século I, bem
depois que Jesus Cristo havia retornado à paz celestial, por um certo João, que
não se sabe se é o mesmo evangelista – ou o mesmo autor que assumiu o nome dele
– mas, mais provavelmente, por algum cristão judeu revoltado com a situação
daqueles tempos (foi depois da destruição do Templo de Salomão, em Jerusalém). De
toda forma, parece que o Apocalipse foi escrito mesmo para impressionar. Na
época, era conveniente que fosse assim. Suas expressões fortes traduzem os
sentimentos anti-romanos e anti-pagãos dos primeiros cristãos. Por isso, foram
citadas as coisas que existiam e como eram naqueles tempos. Se o texto fosse
escrito nos dias atuais, na descrição dos fatos o exército de anjos não se
limitaria a tocar trombetas e liras, mas também saxofones, guitarras e
contrabaixos, como nas bandas gospel (e também nas de rock pauleira, que hoje é
tudo a mesma coisa). E os cavaleiros do apocalipse não seriam “cavaleiros”, mas
sim “motoqueiros”. E sendo o autor das cenas algum novelista da Globo ainda apareceria
naturalmente a marca das máquinas (além de algum figurante tomando Coca-Cola),
pois a oportunidade não podia ser perdida sem um merchandising editorial, simples que fosse.

Outro nome constantemente
associado ao fim do mundo é o do famoso adivinho Nostradamus (quadro ao lado), nascido
na França em plena Idade Média. Segundo ele, o mundo vai acabar depois das
ações dos três anticristos, dois dos quais já passaram por aí e foram
devidamente identificados (será mesmo?): Napoleão e Hitler. O terceiro foi
designado apenas como “aquele que virá”. Como muitos já vieram e outros tantos
ainda estão por vir, não se sabe de quem se trata. Provavelmente será o maluco (a
verdadeira “besta do apocalipse”) que apertará o botão errado na hora errada,
no caso do epílogo terráqueo vir a ser causado por um desastre nuclear (não
será, talvez, Kim Jong-un, o rechonchudo líder norte-coreano que assumiu o
comando do seu país ainda esta semana?)
Enfim, tranquilidade é a palavra
de ordem, pouco a temer. Pelo menos por enquanto. Os maias não resistiram nem
ao fim do calendário deles e os cristãos podem ficar descansados. O apocalipse,
além de não fixar data, caiu em descrédito. Pode vir a acontecer alguma
desgraça natural, como cair um cometa ou asteroide sobre as nossas cabeças, mas
certamente será mais fácil acertar na mega sena. A da virada vem aí, com prêmio
possivelmente recorde.